
Antonio H. Pinheiro Silveira
Vice-presidente do Setor Privado do CAF. Foi chefe adjunto da Assessoria Econômica do Ministério do Planejamento, secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda e ministro da Secretaria de Portos do Governo do Brasil. Participou de conselhos de empresas públicas e privadas, com destaque para a Caixa Econômica Federal, Vale S.A. (Conselho Fiscal) e Banco do Nordeste. Atuou como diretor executivo pelo Brasil no Banco Mundial e no BID. É doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Entrevista
P./ O dinamismo do setor privado é essencial para que a região alcance o desenvolvimento sustentável. Quais são os principais desafios e obstáculos enfrentados pelo setor privado da região e quais são os setores mais promissores para o desenvolvimento nas próximas décadas?
O setor privado é o motor do desenvolvimento em praticamente todas as economias. É claro que não pode haver uma separação completa entre os setores público e privado, as esferas são complementares e é uma boa articulação entre os setores público e privado que gera um processo de desenvolvimento mais avançado. Na América Latina, temos vários países que têm essa proximidade, essa coordenação, mas hoje há enormes desafios: um, porque somos, em sua maioria, países de desenvolvimento muito recente e isso tem fortes implicações do ponto de vista tecnológico, do ponto de vista do capital humano, entre outras coisas. É por isso que a ação dos bancos de desenvolvimento, especialmente em regiões como a América Latina, entre outras, como a África, é muito essencial para alavancar o processo de desenvolvimento.
Agora, hoje os principais desafios que temos são as questões de infraestrutura, porque normalmente no passado isso era uma tarefa do Estado, mas cada vez mais, devido às restrições fiscais, tivemos a necessidade de envolver mais ativamente o setor público com o setor privado para a geração de boas instituições, infraestrutura que gera competitividade, resiliência às mudanças climáticas e que nos permite conectar a região para que fiquemos mais integrados, que é outro ponto muito necessário para a questão do desenvolvimento.
A integração regional, a expansão dos mercados, a escala que também permite que o setor privado aumente seus investimentos, buscando atingir mercados maiores, e esse é um papel que a CAF tem em seu DNA. Além dessas questões de conectividade, há também, é claro, as questões ambientais, as mudanças climáticas, a biodiversidade e a resiliência, questões fundamentais que serão prioritárias, tanto para o setor público quanto para o setor privado. Mas, especialmente as questões de biodiversidade e o que chamamos de capital natural, há muitas oportunidades para expandir o setor privado. É por isso que é tão importante que a CAF se identifique como um banco verde e, com base nessa alavanca de banco verde, abra espaços para o diálogo e para a ação pública e privada no campo das questões climáticas, questões verdes e biodiversidade.
P./Em que dimensões a CAF pode contribuir para o desenvolvimento do setor produtivo da região e quais são os instrumentos mais inovadores à sua disposição?
É claro que a CAF, como banco, terá um papel de liderança em questões de financiamento, e estamos desenvolvendo isso, mas precisamos avançar mais com novos produtos financeiros e implementar inovações que permitam que o setor privado seja bem financiado, não apenas pela CAF, mas também por seus intermediários financeiros. É por isso que devemos estar próximos do setor privado não financeiro para oferecer bons produtos, produtos apropriados, como garantias para transações entre países, que é um novo produto no qual estamos trabalhando, mas não apenas isso, mas também para trazer as melhores práticas para as questões de interação público-privada que mencionei, como PPPs (parcerias público-privadas) e, a partir daí, desenvolver bons programas de PPP que tenham o treinamento de funcionários públicos e promoções, especialmente em empresas que tenham uma forte presença regional.
P./ Como o conhecimento apoia a tomada de decisões de negócios e o desenho da visão estratégica de sua área?
O conhecimento é o ponto básico para tudo, desde o ponto de vista puramente financeiro, que é conhecer os clientes, entender sua dinâmica, entender suas necessidades para gerar produtos financeiros adequados. Mas a CAF, com uma visão financeira, mas também com uma visão de desenvolvimento, de impacto no desenvolvimento, especialmente, precisa estar informada sobre as melhores práticas nos diferentes setores em que atuamos, precisa estar informada sobre a fronteira da ciência e a possibilidade de desenvolvimento científico e tecnológico para apoiar seus clientes, para apoiar seus países, Em particular, do nosso ponto de vista, é muito mais importante que essa assistência seja fortemente baseada em relatórios importantes com impacto e que consiga influenciar as decisões não apenas da CAF, mas também das autoridades e de todos os cidadãos da América Latina. E é nesse ponto que a RED é de fundamental importância.