5. América Latina e Caribe: rumo ao desenvolvimento sustentável no século XXI
- Introdução
- Perspectivas de crescimento econômico sustentável: oportunidades em meio a desafios persistentes
- Aproveitar novas (e antigas) oportunidades: a agenda pendente e o papel da institucionalidade
- O papel dos bancos de desenvolvimento multilaterais
- Referências para o capítulo 5
Mensagens-chave
- A Quarta Revolução Industrial oferece oportunidades de decolagem para a região, apesar dos desafios persistentes. A adoção das tecnologias da Indústria 4.0 (inteligência artificial, internet das coisas etc.) traz o leap-frogging, ou salto de etapas, como uma possível via de crescimento para os países da região. Essa perspectiva se contrapõe à ideia de um crescimento sequencial e gradual, passando da agricultura à indústria manufatureira.
- Para aproveitar as novas tecnologias no enfrentamento das lacunas de desenvolvimento e impulsionar o crescimento econômico, é necessário identificar setores estratégicos que maximizem as vantagens naturais da região. Em primeiro lugar, é preciso promover um setor agrícola moderno. Em segundo, é essencial implementar uma nova política industrial que integre o setor de serviços não transacionáveis. Este último, marcado pela informalidade e baixa produtividade, será fundamental para absorver a mão de obra menos qualificada, que poderá ser deslocada pela automação e digitalização de determinados processos.
- Essas trajetórias de crescimento são complementares à industrialização e à especialização de alguns países na exportação de serviços transacionáveis, como os financeiros ou de informação. É imprescindível que o setor manufatureiro da região reconheça a biodiversidade e os ecossistemas como fontes de riqueza, especialmente no contexto da transição energética. Além disso, a ALC deve encontrar uma forma mais eficaz de se integrar às cadeias globais de valor (CGV).
- Em vez de depender exclusivamente da extração de recursos naturais, como minerais ou petróleo, a região tem a oportunidade de transformar seus ecossistemas e espécies em ativos valiosos para setores como o farmacêutico, o agronegócio, a biotecnologia e o turismo. No contexto da transição energética, a ALC dispõe de vantagens geográficas significativas para o desenvolvimento de energias limpas. A imposição de tarifas e restrições comerciais com base no conteúdo de carbono de bens e serviços tornará o acesso às energias limpas uma vantagem competitiva relevante.
- A descarbonização também impulsionará a formação de cadeias de valor voltadas para atender à demanda por energias limpas. A região deve capitalizar suas vantagens comparativas na produção de energia renovável e na disponibilidade de minerais como lítio e cobre para ampliar sua presença nas CGV.
- O posicionamento geopolítico da ALC facilita sua inserção nas CGV. Por um lado, a região apresenta baixo risco de conflito e pode se consolidar como fornecedora confiável de insumos. Além disso, tem se mantido, em geral, à margem da imposição de proibições, restrições e exigências de licenciamento para exportação e importação motivadas por guerras comerciais. A ALC possui grande potencial para se destacar nas cadeias globais de valor devido à abundância de minerais críticos e à expansão dos serviços transacionáveis. A região vem demonstrando forte potencial de crescimento no desenvolvimento e exportação de serviços de software, design e análise de dados, fintech e terceirização de processos empresariais (BPO).
- O êxito das políticas públicas depende da capacidade dos governos de formular, implementar e avaliar a normatização de forma eficaz. Um Estado com instituições sólidas, pessoal capacitado e processos administrativos eficientes pode assegurar a execução coerente e sustentada das políticas públicas ao longo do tempo.
- Avançar na agenda de capacidades estatais na ALC exige priorizar o fortalecimento institucional. Os quatro pilares dessa agenda são a profissionalização do serviço público, o oferecimento de incentivos para desenvolver o potencial dos servidores, a digitalização do Estado e o fortalecimento de sua capacidade de gerar, gerir e analisar dados em tempo real.
- O financiamento direto que os BDM oferecem aos governos da região é a ação mais visível. No entanto, o maior potencial transformador desses organismos reside em sua capacidade de enfrentar falhas de mercado e de coordenação. Os BDM são instrumentos essenciais de política pública, com experiência global, mandato para promover o desenvolvimento e capacidade de investir em bens públicos em escala. Os BDM também inovam, sendo pioneiros na criação de títulos de impacto social, fundos de investimento verde e mecanismos de financiamento baseados em resultados.
- A geração de conhecimento por parte da banca multilateral apresenta ao menos três vantagens. Primeiro, os BDM que atuam na ALC mantêm conexões muito mais diretas e frequentes com a realidade da região do que a academia. Segundo, os BDM funcionam como excelentes plataformas para a disseminação de conhecimento, o que facilita a chegada de seus diversos produtos aos fóruns decisivos, garantindo que as evidências orientem as políticas públicas. Terceiro, a avaliação rigorosa das operações permite que os BDM repliquem e escalem soluções custo-efetivas para os desafios.