Adaptação às mudanças climáticas e à degradação dos ecossistemas

Os países da América Latina e do Caribe apresentam realidades diversas, mas compartilham características comuns que influenciam significativamente os impactos das mudanças climáticas na região e suas necessidades de adaptação.

Primeiro, conforme discutido nos Capítulos 1 e 3, as economias da região apresentam altos níveis de desigualdade de renda, sendo que a maioria possui renda média ou baixa. A elevada incidência da pobreza amplia a necessidade de políticas públicas para mitigar seus impactos sobre grupos vulneráveis.

Segundo, a região apresenta um nível de urbanização elevado e crescente, frequentemente acompanhado por um planejamento inadequado. Além disso, há deficiências na infraestrutura básica, o que acentua a necessidade de adaptação e intervenções governamentais.

Terceiro, em muitos países da região, a população se concentra em zonas costeiras expostas ao aumento do nível do mar e, consequentemente, à maior frequência e intensidade de tempestades e ressacas. Esse é particularmente o caso do Caribe, onde cerca de um quinto da superfície terrestre e 12 % da população estão a menos de 10 metros acima do nível do mar.

Quarto, a estrutura econômica da região depende fortemente do setor agropecuário, que representa, em média, 15 % do emprego e chega a 30 % em sete países (Brassiolo et al., 2023)1. Esse setor é especialmente vulnerável às mudanças já observadas e projetadas nos regimes de chuvas e temperaturas resultantes do aquecimento global.

As políticas de adaptação buscam reduzir os impactos das mudanças climáticas na saúde, promover o bem-estar, garantir a segurança alimentar, conservar a biodiversidade e minimizar riscos e danos (IPCC, 2022b). Considerando as características da região, as prioridades de adaptação podem ser organizadas em três grupos: setor agropecuário, cidades e infraestrutura resiliente, e políticas direcionadas a populações vulneráveis. 

No setor agropecuário, as políticas de adaptação visam, em primeiro lugar, fortalecer a resiliência dos sistemas agrícolas aos impactos das mudanças climáticas, por meio de práticas que otimizem o uso da água e do solo e os tornem mais resistentes a eventos climáticos extremos, como secas e inundações. Isso inclui o desenvolvimento de sistemas de informação climática, planejamento do uso da terra, mudanças na escolha de cultivos conforme as características das parcelas, desenvolvimento e adoção de variedades resilientes às mudanças esperadas e expansão da irrigação em áreas sujeitas a estresse hídrico. A gestão hídrica requer investimentos tanto em infraestrutura tradicional quanto em soluções baseadas na natureza. Entre as estratégias estão a construção de barragens para armazenar água destinada à irrigação e prevenção de enchentes, ampliação da capacidade de drenagem dos cursos d’água e aproveitamento de ecossistemas – como manguezais, zonas úmidas e florestas – para regular os ciclos hidrológicos (Brassiolo et al., 2023; IPCC, 2022b).

Em segundo lugar, é essencial ampliar o acesso a mecanismos de seguro e crédito. Seguros agrícolas, financiamento da produção e mercados futuros podem aprimorar a gestão de riscos dos produtores rurais e eliminar barreiras financeiras que dificultam investimentos necessários.

No setor urbano e de infraestrutura, o planejamento territorial e o desenvolvimento de infraestrutura resiliente são os principais instrumentos de adaptação. A expansão urbana e o desenvolvimento de infraestrutura (como transporte, energia e comunicações) devem levar em conta possíveis mudanças nas condições climáticas, considerando a incerteza associada aos cenários projetados. Além disso, os sistemas de informação desempenham um papel crucial na orientação das decisões de famílias e empreendedores. Isso inclui a disseminação de informações espaciais detalhadas sobre riscos ambientais e a implementação de sistemas de previsão e alerta precoce (De la Mata et al., 2022).

A infraestrutura resiliente refere-se à capacidade de resistir a condições ambientais extremas (chuvas, ventos, tempestades), seja por meio de maior resistência estrutural ou melhor localização. Algumas áreas-chave que exigem maior resiliência incluem a infraestrutura para evitar a erosão costeira (como quebra-mares), sistemas de drenagem pluvial nas cidades, redes de transmissão e distribuição de eletricidade, que perdem eficiência devido a temperaturas elevadas e precisam se adaptar às demandas de resfriamento, e a transição energética. 

O Caribe está localizado no centro do cinturão de furacões do Atlântico, e a temporada vai de junho a novembro. Portanto, todo ano, pelo menos um furacão atinge as ilhas do Caribe, às vezes mais de um, e eles podem ser extremamente destrutivos. Muitas dessas ilhas são pequenas, tornando difícil resistir aos impactos. (…) Não há nada que as ilhas do Caribe possam fazer para evitar isso. Elas precisam construir moradias resistentes a furacões, garantir sistemas de drenagem adequados, mas, no fim, só podem se preparar.

Baseado em entrevista com Colm Imbert

Precisamos avançar em soluções que fortaleçam a infraestrutura, investir em tecnologias essenciais para garantir que nossos sistemas de alerta precoce sejam os mais eficientes possíveis e que nossos sistemas de reconstrução e recuperação sejam sólidos e eficazes.

Baseado em entrevista com Karen-Mae Hill

As soluções baseadas na natureza (ou infraestrutura verde) desempenham um papel central na adaptação de cidades e áreas costeiras, reduzindo a necessidade de infraestrutura tradicional (ou cinza). Por exemplo, a reabertura de cursos d’água urbanos próximos a áreas verdes ajuda a regular os ciclos hídricos e prevenir enchentes. A restauração de manguezais, recifes de corais e barreiras de ostras absorve a energia das ondas e reduz a erosão costeira. Além disso, a remoção de detritos e resíduos de córregos e rios minimiza o risco de inundações.

O planejamento territorial urbano deve ser implementado de forma eficaz. Esse é um desafio na região, pois os assentamentos informais são comuns e tendem a se estabelecer em áreas de alta exposição a riscos ambientais. As políticas urbanas voltadas para grupos vulneráveis devem abordar o desafio duplo de melhorar a qualidade da habitação e do ambiente nos bairros informais. Isso amplia sua capacidade de adaptação, ao mesmo tempo em que previne o crescimento dessas áreas em locais de alto risco, onde as adaptações exigem altos custos. As políticas para melhorar a inclusão no mercado de trabalho (capítulo 3), aumentando a renda e diversificando suas fontes, complementam fortemente as estratégias de adaptação climática.

Notas al pie

  1. Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicarágua e Peru.